5/24/2011

A OITAVA COR DO ARCO-ÍRIS — O Dia Seguinte


No panorama contemporâneo da produção cinematográfica brasileira, onde predomina a denúncia à miséria e violência urbanas (CIDADE DE DEUS, 2002), retratos acusatórios da corrupção que grassa na política, lei e comunicação social (TROPA DE ELITE, 2007) ou biografias sobre personalidades da História recente do Brasil (LULA, O FILHO DO BRASIL, 2009), surpreende pela positiva encontrar um título que invoque a vivência da humanidade rural, estimule a sensibilidade do espectador e constitua exercício absolutamente neo-realista sem pretensões que não seja as de explanar, narrativa e visualmente, uma história totalmente simples.

A OITAVA COR DO ARCO-ÍRIS revela-se uma descoberta, apenas e sobretudo, por fugir à "conjuntura" acima descrita. O argumento pode estar pejado de lugares-comuns, a fotografia é quase banal, a resolução da história ocorre de forma extemporânea e existem situações que poderíamos jurar já ter visto em dezenas de outras obras, mas excede em desafiar o espectador a encontrar o que não está imediatamente à superfície.



Elaborando um óbvio contraste entre a cidade e o campo, a viagem de Joãozinho a Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso, para vender a cabrita de estimação e, com esse dinheiro, adquirir os medicamentos que aliviem a enfermidade da sua avó, mais não é do que um pretexto para Amauri Tangará sublinhar a ingenuidade e emocionalidade que ainda determinam a existência de muitos indivíduos num planeta demasiado racional e globalizado.

Apesar do aparato pouco sofisticado, A OITAVA COR DO ARCO-ÍRIS destaca-se pela sua banda sonora apelativa e pela interessante mise-en-scène das sequências situadas em Cuiabá, nomeadamente o facto de Joãozinho ser quase exclusivamente filmado à distância, ou em expressivos picados e contra-picados, numa evidente vontade de salientar o deslocamento do protagonista face à urbe que o envolve.



Por vezes, menos é mais. E, nesse particular, é impossível negar o charme muito próprio de A OITAVA COR DO ARCO-ÍRIS, merecedor de atento visionamento.

[As duas curtas-metragens, também de Amauri Tangará e ontem exibidas pelo 9500 Cineclube, reforçam alguns dos elementos presentes em A OITAVA COR DO ARCO-ÍRIS. HORIZONTEM e, sobretudo, POBRE É QUEM NÃO TEM JIPE são peças de imenso humanismo devidamente acompanhas pela fascinante paisagem natural do Mato Grosso.]

Samuel Andrade.

Nota: este texto reflecte apenas a opinião do autor, não representando a visão geral do 9500 Cineclube.

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