Quando o quarto de hora final de um filme o resgata, visual e emocionalmente, da mediania, só nos resta questionar porque motivo Doris Dörrie (com todos os "trunfos" em seu poder) não transformou este CEREJEIRAS EM FLOR, terna história sobre remorso e compreensão intercultural, em algo de surpreendente e inesquecível.
No seu centro, temos um casal alemão e provinciano de terceira idade que enfrenta a morte, um em perspectiva, outro materialmente, procurando reatar com os filhos entretanto distanciados afectiva e geograficamente. E é neste simples conceito, o qual não pormenorizarei em prol dos que nunca viram o filme, que Dörrie não evita uma série de lugares comuns narrativos — a doença incurável mas livre de sintomas que tão frequentemente afectam personagens de filmes — e a resolução abreviada de situações — sobretudo, o drama e choque de gerações do argumento — que o espectador menos indulgente poderá considerar difícil de "encaixar".
Do mesmo modo, os seus temas e metáforas mostram-se longe de serem subtis, e os ritmos emocionais não ficariam deslocados num drama televisivo (não por acaso, o background de Doris Dörrie). Existem demasiadas explicações: podemos compreender a beleza transitória da flor de cerejeira sem que nos falem sobre o seu estatuto de «símbolo de efemeridade», e as moscas que servem função similar não necessitavam de esvoaçar constantemente.
Todavia, no que lhe falta em subtileza, Dörrie compensa com uma nítida e bem conseguida preocupação visual, nomeadamente quando a acção de CEREJEIRAS EM FLOR transita para o Japão. É neste cenário, onde existem mais contrastes culturais por metro quadrado do que em qualquer outro lugar no mundo, que o filme consegue mover o espectador sem parecer forçado nem demasiado melodramático. Uma particular sequência, com o Monte Fuji em pano de fundo, representa um dos clímaxes românticos mais inesperados e comovedores que pude observar recentemente.
Apesar dos seus elementos menos perfeitos, CEREJEIRAS EM FLOR merece atenta visualização.
Samuel Andrade.
Nota: este texto reflecte apenas a opinião do autor, não representando a visão geral do 9500 Cineclube.
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