Durante 96 minutos, as fotografias de quem foi detido, interrogado, torturado, humilhado e marcado para toda a vida pela PIDE durante 48 anos de ditadura salazarista (daí o título do filme), dominadas por expressões de ansiedade e sofrimento em rostos amedrontados e enrugados, ocupam o ecrã acompanhados da descrição dos próprios retratados, em trémulos voz-off, que invocam memórias traumáticas do que viveram entre as instalações da Rua António Maria Cardoso e a prisão de Caxias.
Se a composição formal de 48 parece escassa em cinema, é porque a sua visualização proporciona uma experiência mais psicológica do que sensorial. A associação das vozes às fotografias estimula não só a nossa capacidade de interpretação pessoal como também um certo poder de sugestão (embora alguns dos testemunhos sejam inegavelmente explícitos) para a compreensão das emoções de cada entrevistado. Todavia, se o Cinema é, por excelência, a arte de envolver o espectador, então 48 será das obras portuguesas mais cinematográficas de 2011...
Espera-se realmente que seja, igualmente, um filme que acorde consciências relativamente ao nosso passado recente, do qual este ainda parece ser assunto desconfortável para a sociedade portuguesa contemporânea. Se a pormenorização das actividades levadas a cabo pela PIDE continua a ser sonegada nas aulas de História, Susana de Sousa Dias acaba de simplificar a tarefa com um registo documental sincero e inequívoco acerca dessa intenção.
Samuel Andrade.
Nota: este texto reflete apenas a opinião do autor, não representando a visão geral do 9500 Cineclube.
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