4/19/2011

12 HOMENS EM FÚRIA — O Dia Seguinte



Foi com enorme prazer que revi, ontem à noite, 12 HOMENS EM FÚRIA, o primeiro filme de Sidney Lumet e uma excelente introdução para o estilo, temático e estético, que o cineasta norte-americano desenvolveria durante meio século de carreira: magistral direcção de actores, enérgica narrativa e realismo social. Três aspectos devidamente explorados em 12 HOMENS EM FÚRIA, um drama de tribunal que não apresenta uma única sequência na sala de audiências (excepção feita para a breve introdução). Ao invés, centra a sua acção numa pequena sala para jurados de um tribunal de Nova Iorque, durante o "dia mais quente do ano", onde doze homens decidirão o destino de um jovem hispano-americano acusado de ter assassinado o pai.

Desde cedo, existe no grupo a sensação de que o veredicto unânime de culpado, e respectiva sentença de morte, será alcançado sem demoras nem controvérsias. No entanto, será o jurado n.º 8 (Henry Fonda) a levantar as suas objecções a tal desfecho, obrigando à revisão dos testemunhos e provas levadas a tribunal contra o réu e demonstrando que, afinal de contas, existe uma dúvida razoável (ou reasonable doubt, um princípio fundamental para a maioria dos sistemas legais) em torno do caso. «Estamos a falar de uma vida humana», afirma a personagem de Fonda. «Não podemos decidir isso em cinco minutos. E se estivermos errados?» Será este o ponto de partida para a ruptura entre o júri, onde cada um exporá preconceitos e fraquezas pessoais.



Segundo qualquer definição, estamos perante um filme "palavroso" em que a acção decorre a um nível mais intelectual do que de situações. É neste aspecto que Lumet revela-se um cineasta mais virtuoso do que se poderia esperar para o género de argumento apresentado. 12 HOMENS EM FÚRIA patenteia uma fenomenal direcção de fotografia que, com o desenrolar dos factos, torna-se mais expressionista e artificial.

Pormenores como a posição de câmara (a início, num ponto mais elevado em relação ao ponto de vista das personagens até ao domínio do contra-picado no final), o recurso a objectivas de grande distância focal conforme nos aproximamos do veredicto de inocente (dando a aparência de que as paredes "se aproximam" dos actores) e uma iluminação simbólica (note-se como a face do reticente jurado n.º 3, irredutível em atribuir a reasonable doubt ao réu mesmo quando todos os outros já o fizeram, está permanentemente obscurecida nas cenas finais) acompanham os sentimentos psicológicos do grupo e influenciam a nossa apreensão da narrativa.



A realização de Sidney Lumet e o inteligente argumento de Reginald Rose recusam preocupar-se na descoberta de quem realmente cometeu o homicídio, nem procura discernir se o jovem hispano-americano é ou não o culpado. 12 HOMENS EM FÚRIA descreve como a percepção lógica dos factos desenterra sempre a verdade mais significativa. E acaba por ser esse o tema do filme: os obstáculos e os meios que um indivíduo pode encontrar para encontrar a verdade, assim como a ausência de paz de espírito quando encaramos a incerteza.

Um clássico absoluto do cinema realista norte-americano, definido pelas personalidades, backgrounds, profissões, preconceitos e tiques emocionais de doze jurados, merecedor de uma audiência muito mais significativa do que as duas dezenas de espectadores que ontem marcaram presença na sala do 9500 Cineclube.

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