3/15/2011

OS DOIS DA (NOVA) VAGA — O Dia Seguinte


Mais didáctico que enciclopédico, OS DOIS DA (NOVA) VAGA constitui uma interessante abordagem à Nouvelle Vague, plenamente capaz de cativar iniciados e veteranos no tema, procurando imergir o espectador numa época social e cultural muito particular.

Como o título indica, o filme centra-se quase exclusivamente nas figuras e percursos de Jean-Luc Godard e François Truffaut, fazendo-o de modo quase exaustivo: dos seus primórdios enquanto críticos apaixonados por um estilo literário de análise fílmica até à sua célere ascensão a favoritos da crítica, a sucessiva permuta de argumentos e projectos, os seus perfis biográficos e, por fim, as razões que originaram a cisão criativa e pessoal dos dois autores. Episódios acompanhados por um apurado recurso a imagens de arquivo, recortes de imprensa (edições da Cahiers du Cinéma em destaque) e os obrigatórios excertos de OS 400 GOLPES ou O ACOSSADO como complementos da informação histórica partilhada.

Lamenta-se, contudo, que Emmanuel Laurent, juntamente com o argumentista Antoine de Baecque, não tenha tocado nas influências recebidas (Claude Chabrol ou Henri Langlois) e transmitidas (Louis Malle, Agnès Varda ou Alain Resnais) por Godard e Truffaut. A crónica da Nouvelle Vague revela-se incompleta em OS DOIS DA (NOVA) VAGA, tornando-o, assim, num título secundário para a compreensão do movimento.

E é impossível não referir o protagonismo conferido a Jean-Pierre Leaud no filme.


De face inconfundível da Nouvelle Vague até à sua utilização como "arma" da disputa artística e ideológica de Godard e Truffaut, pertence-lhe o instante mais delicioso de OS DOIS DA (NOVA) VAGA: as imagens (para mim, desconhecidas) da sua audição para OS 400 GOLPES durante os créditos finais.

E muitos questionam-se sobre a presença aqui conferida a Isild Le Besco, actriz francesa contemporânea. A resposta poderá ser encontrada no célebre axioma enunciado por Jean-Luc Godard: «Para fazer um filme, basta ter uma miúda e uma pistola». Emmanuel Laurent não apresenta qualquer género de arma mas a face de Le Besco, justaposta com as de Jean Seberg e Anna Karina, sugere um saudosismo que nunca fica mal a um documentário. Mesmo que tal seja apontado por outras vozes como "defeito estético"...

Samuel Andrade.

Nota: este texto reflete apenas a opinião do autor, não representando a visão geral do 9500 Cineclube.

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