Poderíamos deitar o nosso olhar mais subjectivo sobre FILME SOCIALISMO e de lá nada retirar.
Do ponto de vista técnico, não estamos perante nada de revolucionário: já Michael Haneke fez este tipo de experiência audiovisual nos anos 90 (O SÉTIMO CONTINENTE ou 71 FRAGMENTOS DE UMA CRONOLOGIA DO ACASO, só para citar dois exemplos flagrantes) com maior sucesso. A "narrativa", dividida entre a denúncia aos comportamentos de consumo da nossa era e a reflexão sobre o Século XX Europeu, pouco transmite.
A jovem insolente, que surge no segundo segmento do filme, parece personificar o Jean-Luc Godard representado em FILME SOCIALISMO perante os tempos modernos: impregnado duma ideologia suspensa no tempo, anacrónica, sem motivos de existir.
Para além da sua óbvia capacidade de suscitar debate, vale-lhe a indulgência reservada a autores do seu estatuto. Uma atitude que, para mim, chega a ser quase desrespeitosa. Ninguém retira a Godard o importante papel desempenhado em prol dos patamares artístico e teórico alcançados pela Sétima Arte, logo não seria necessário estar-se a formular "cartas de retractação" que o próprio cineasta (se bem o conhecemos...) rejeitaria subscrever.
Não se inventem argumentos para encontrar preciosos achados de semântica em FILME SOCIALISMO, nem se compare este título com a filmografia, antiga ou recente, do realizador. Olhemos para a obra, exibida ontem à noite pelo 9500 Cineclube de Ponta Delgada, tal como ela é: uma longa dissertação de um indivíduo cada vez mais determinado em não comunicar com a sua plateia.
Samuel Andrade.
Nota: este texto reflete apenas a opinião do autor, não representando a visão geral do 9500 Cineclube.
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