Vik Muniz, no auge de fortuna e popularidade internacionais enquanto artista plástico, decide conhecer em primeira mão o Jardim Gramacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo, localizado no Rio de Janeiro. Durante dois anos, trava conhecimento com sete "catadores" de material reciclável e inspira-se nas suas vidas para uma exposição fotográfica solidária.
Se as noções de arte socialmente consciente ou concepção de obras feitas de materiais inteiramente correlacionados com o assunto retratado não se revelam propriamente inusitadas, já a enumeração de case studies dessas realidades parece ser mais difícil. É por isso que LIXO EXTRAORDINÁRIO apresenta-se fresco e revolucionário na sua concretização, que aborda vários aspectos — do processo criativo de Muniz até à franca descrição da (inexistente?) condição social do "catador" — sem se concentrar exclusivamente em nenhum deles, logrando expor, com sucesso, a essência de cada um.
Humanista, emocional e, por vezes, arrebatador, a realizadora Lucy Walker assina um documentário estética e visualmente impressionante (destaque para algumas imagens recolhidas no Jardim Gramacho), infundido da imortal mensagem «o teu destino é por ti escrito» mas que, na parte final, não evita cair num certo dramatismo "fácil". Nada que afecte o poder das intenções de um dos melhores filmes documentais sobre arte produzidos em 2010.
Samuel Andrade.
Nota: este texto reflecte apenas a opinião do autor, não representando a visão geral do 9500 Cineclube.
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