10/12/2010

SINAL DE ALERTA (2006), de Andrea Arnold



Manipulador e inquietante, SINAL DE ALERTA explora duas linhas narrativas que se revelam, simultaneamente, autónomas e interactivas: o descontrolo emocional da sua protagonista, Jackie (Kate Dickie, que nos faz lembrar uma jovem Helen Mirren), e a peculiar análise às consequências da segurança urbana na presente era digital, marcada pela omnipresente tecnologia que acompanha, na sua quase totalidade, o nosso paradeiro quotidiano.

O mérito desse feito vai, indiscutivelmente, para a realizadora Andrea Arnold. Esta sua primeira longa-metragem coloca o espectador numa zona de desconforto logo a partir dos primeiros minutos, situando-o numa sala iluminada pelas imagens provenientes dos monitores de vigilância que Jackie controla, destacando câmara após câmara num ecrã principal, tentando vislumbrar actividades suspeitas num cenário aparentemente interminável — a saber, um desolador bairro social de Glasgow, cuja arquitectura consegue ser, por si só, personagem em SINAL DE ALERTA.



Alternando os vários pontos de vista que se lhe deparam, Jackie deixa-se cativar e entreter por histórias da vida real, como o homem que passeia uma cadela debilitada fisicamente ou o entusiástico talento para a dança de uma empregada de limpeza. Contudo, a segurança urbana é a sua prioridade e, um dia, observa, com apreensão, a perseguição movida por um homem a uma mulher num beco mal iluminado. «Falso alarme», informa ela a um segurança, quando percebe que o casal apenas procura local recôndito para um fortuito encontro sexual.

Subitamente (num brilhante momento de horror voyeurístico que invejaria Brian De Palma), Jackie agarra o joystick da câmara de vigilância e efectua zoom sobre o homem (Tony Curran, num registo imprevisível) que veste as calças. Através daquela "janela" digital, vislumbra-se um rosto que ela aparenta reconhecer. Um rosto pelo qual ficará obcecada e devastada. Rapidamente, começa a vigiar este indivíduo, percebendo a sua rotina diária e memorizando as suas acções. Não tarda que da mera perseguição vídeo, ela inicie a interacção com este desconhecido que está relacionado com algum episódio amargo do passado de Jackie e, para o espectador, a compreensão deste estranho comportamento.



A princípio, SINAL DE ALERTA parece ser uma obra sobre a natureza de quem observa, impunemente, a vida de quem não sabe estar a ser observado. Andrea Arnold, pouco interessada em espicaçar opiniões sobre a crescente ausência de privacidade nas sociedades modernas, constrói um thriller suportado numa contida e minimalista (adjectivos que também descrevem a natureza técnica do filme) descoberta das motivações de Jackie, e não em cansativas sequências de acção vertiginosa ou sustos gratuitos. A nossa pressão arterial aumenta com a representação do conflito quase impassivo entre as duas personagens — que culmina numa sequência de forte carga sexual extraordinariamente perturbadora e ambígua. Ou na forma como a cineasta nos transforma no mesmo tipo de voyeur que Jackie é durante grande parte do filme, aumentando o nosso já referido desconforto através de um "vocabulário" cinematográfico constituído por monitores desfocados, fotografia agressiva e trabalho de câmara "irrequieto".

Pouco dependente de diálogos e, a certa altura, ameaçando perder-se em demasiados sub-plots, a narrativa de SINAL DE ALERTA acaba por se revelar admiravelmente coesa. Tudo se conjuga no final, em grande parte pelo desempenho de Kate Dickie — é incompreensível que não possua uma carreira mais notória — numa fascinante demonstração de força e mágoa.

Samuel Andrade

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