6/30/2010

O 9500 ESTEVE LÁ

Na segunda-feira dezenas de profissionais do cinema português reuniram-se no cinema São Jorge num protesto contra a cativação de 20% das verbas a todos os organismos dependentes do Ministério da Cultura, em Lisboa, incluindo assim o Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA).

Dessa reunião surgiu um comunicado oficial, em que se exige "a revogação imediata na redução de 10% prevista no artigo 49.º do decreto-lei de execução orçamental"; solicita-se à ministra da Cultura que "diligencie de imediato junto do Ministério das Finanças a desactivação dos 20% de receitas próprias do ICA relativos a 2010"; que "consubstancie as suas promessas de uma nova lei do cinema, com propostas concretas e que envolva os representantes do sector com a maior brevidade possível na discussão dessa nova lei e dos novos mecanismos de financiamento do sector que lhe estão inerentes". E convoca-se "todos os artistas e agentes culturais das outras artes para uma reunião pública a realizar na próxima segunda-feira, dia 5, em local e hora a determinar".

Este grupo de profissionais do cinema refere ainda em comunicado: "Não recusamos fazer parte do esforço de combate à crise, na medida em que este seja justo e equilibrado. Não podemos é aceitar uma revisão unilateral dos termos de contratos relativos a projectos cujas despesas estão em grande parte já comprometidas."

Este comunicado de protesto teve 190 signatários, em que se encontram nomes como João Botelho, Rita Blanco, Nuno Lopes, João Canijo, Pedro Costa, Serge Trefaut, Sandra Cóias, João Mário Grilo, Pedro Borges, Luís Urbano, Ivo Canelas ou João Salaviza.

DN Artes

6/29/2010

BIBLIOTECA DE CINEMA

ESTÉTICA DA MONTAGEM de VINCENT AMIEL
Texto & Grafia (2010) | 136 páginas

A montagem no cinema não se resume a uma operação técnica que consiste em cortar e colar pedaços de película para deles fazer um filme; é uma operação complexa que exige criatividade, e que implica uma total proximidade da estética da obra: associar imagens por uma certa ordem, ordená-las segundo o ritmo pretendido, criar rupturas ou continuidade, é aquilo em que consiste a arte da montagem.
O objectivo deste livro é traçar um panorama das diferentes concepções da montagem ao longo da história do cinema, e propor uma análise desta técnica em numerosos domínios da representação.
O autor ilustar a sua exposição com exemplos de montagens de filmes, especialmente de autores como Orson Welles, Alain Resnais ou Maurice Pialat, mostrando em ue medida a evolução das técnicas e das práticas de montagem influência a estética dos filmes.

PRÓXIMA SESSÃO > 5 JULHO


O 9500 CINECLUBE inicia com o jovem realizador Rodrigo Areias um ciclo dedicado aos novos realizadores nacionais.
Numa altura em que tanto se fala das grandes dificuldades financeiras do cinema luso e sua incapacidade em atrair investimentos privados nada melhor do que iniciar este ciclo com Tebas (2007), a primeira longa-metragem de Rodrigo Areias, filmado durante um ano e oito meses, com um orçamento que rondou os 300 mil euros provenientes exclusivamente de investidores privados.

No ínicio da sessão será exibida a última curta-metragem Corrente (2008) que recebeu os prémios:Prémio Especial do Júri do Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira 2008,Prémio RTP "Onda Curta" do FIKE Festival Internacional de Curtas Metragens de Évora 2008,Melhor Curta-Metragem Competição Nacional e Prémio do Público do Curtas Vila do Conde Festival Internacional de Cinema 2008, entre outros.

Tebas é uma adaptação da tragédia clássica de Sófocles, Rei Édipo, com um piscar a Jack Kerouac. Partindo da perda de identidade de uma segunda geração de emigrantes portugueses, Tebas conta a história de um jovem que em busca das suas origens parte de Paris em direcção a Portugal com um camionista beatnik. Mergulha nas profundezas de Tebas num road-movie surrealista.
A banda sonora de `Tebas` é assinada por Paulo Furtado, o líder do grupo de rock Wraygunn, que nas suas produções a solo assume a personalidade de Legendary Tiger Man.

6/26/2010

LIVRO VERDE DAS INDÚSTRIAS CULTURAIS E CRIATIVAS

Foi o 9500 Cineclube, de Ponta Delgada, amavelmente convidado, e muito agradecemos esse convite, para apresentar uma reflexão e consequente proposta sobre a situação e perspectivas das indústrias culturais e criativas na Região, sob o seu ponto de vista, naturalmente.

No entanto, é preciso que se diga, em primeiro lugar e antes de mais, que na própria definição do chamado “livro verde” se incorre, ainda que de forma camuflada, numa espécie de “pecado original” que tem servido para confundir e agrupar actividades que são, por natureza, diferentes, num mesmo “saco”, viciando e mistificando qualquer apreciação que se possa fazer do “estado geral” da cultura entre nós.

Não dispomos de muito tempo e vamos, portanto, afirmar apenas que as actividades culturais, propriamente ditas, e as actividades, criativas ou não (essa é outra discussão), de animação e entretenimento, são distintas pelas mais variadas razões: desde já pelas preocupações inerentes a umas e a outras; pelos seus diferentes objectivos; e pela sua própria natureza e modus operandi. Isto parece-nos evidente e não iremos elaborar mais sobre este assunto remetendo quaisquer dúvidas que possam existir para o debate que, esperamos, seguirá estas apresentações.

Passando então àquilo que nos parece dever ser o tema desta discussão, temos de começar por dizer que a cultura (industrial, ou não) se encontra entre nós em situação muito precária pese embora o surgimento nos últimos anos de várias associações que desenvolvem uma actividade organizada e, em alguns casos, bastante dinâmica, que antes existia apenas de forma esporádica e pontual. É também de reconhecer o investimento da Região em infra-estruturas culturais que, de alguma forma, têm contribuído para esta dinâmica, sobretudo através de uma, relativamente recente, atitude de abertura à sociedade civil.

Esta actividade, contudo, não invalida o facto de ainda (embora queiramos acreditar que este encontro possa constituir um passo significativo nessa direcção), o facto de ainda, dizíamos, não existir uma política e uma estratégia da Região que visem promover a actividade regular de artistas e agentes culturais nos Açores; que visem formar novos artistas através da aprendizagem de técnicas e correspondente enquadramento teórico facilitando o contacto com os seus pares oriundos de outras regiões (ultraperiféricas ou não); que visem a criação e verdadeira formação de novos públicos para as diferentes áreas de criação artística; que visem possibilitar a regular e condigna apresentação da produção cultural da Região nas 9 ilhas dos Açores bem como no exterior; que visem formar técnicos em áreas complementares à produção cultural; etc.

Ou seja, não só os nossos pintores, escultores, fotógrafos, coreógrafos, bailarinos, realizadores, encenadores, actores, escritores (sejam eles poetas, romancistas ou dramaturgos), mesmo os nossos músicos, embora aqui a situação seja um pouco diferente, ou não se formaram na Região ou são auto-didactas com deficiências na sua formação, como também não encontram na Região quem lhes saiba manusear e montar as peças para uma exposição, iluminar essas mesmas peças de forma profissional, construir os cenários e criar um guarda roupa ou a caracterização de que precisam em complemento à sua arte, entre outras situações que poderíamos também referir.

Procura-se muitas vezes camuflar a falta de um verdadeiro investimento na formação e na actividade regular com investimentos de “encher o olho” ignorando que sem fundações sólidas e adequadas qualquer estrutura, por mais vistosa e grandiosa que possa ser, acaba por não se. Assim nasceu o CCB num país que não tinha na altura sequer livros disponíveis nas escolas, (e a nível regional) assim temos um Teatro Micaelense que não tem uma companhia de teatro residente e agenda quase exclusivamente “produtos ready made” importados do exterior, salvo poucas e honrosas excepções. Também nesta óptica se tem falado ultimamente de, não um, mas dois centros de arte contemporânea para São Miguel, como se com isso se pudesse esconder a escassa produção local neste campo e a insuficiência de incentivos nesta área.

Não se quer com isto significar que não é importante tornar acessível ao público local aquilo que se vai fazendo fora, seja no continente ou no estrangeiro, sobretudo se tal programação corresponder a critérios e políticas claras e definidas. Claro que é! Mas não basta!

Esta é apenas uma componente daquilo que deve ser uma verdadeira política cultural, que tem que assentar, acima de tudo, numa real actividade de base em que se forma e dá condições de trabalho a todos os intervenientes no processo criativo.

É por isto mesmo que iniciativas como o LabJovem reflectem esta lacuna. As dificuldades dos júris em atribuir os prémios têm sido disso prova cabal!

Variadas poderão ser as possíveis abordagens: criação de fundos de capital criativo; apoios à circulação de obras e autores; o facto de o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas não ser um assunto exclusivo da Cultura mas poder, e dever, integrar a Economia, a Ciência e Tecnologia e a Educação…

Pela parte que nos toca, e neste contexto pouco animador, pensamos ser absolutamente prioritário a criação de uma, duas ou mesmo três, escolas profissionalizantes (à semelhança da Restarte, da ETIC ou da Oficina em Famalicão, por exemplo) que possam formar artistas e técnicos nas diferentes vertentes da produção cultural, dando-lhes equivalência ao 12º ano de escolaridade mas privilegiando inequivocamente a vocação artística dos seus currículos e dos seus alunos, conforme as áreas de formação incluídas na Reforma do Ensino Profissional instituída pelo Decreto-Lei 74/2004: Artes do Espectáculo; Audiovisual e Produção dos Media; e Design.

O 9500 Cineclube, de Ponta Delgada, propõe, então, uma escola, pública ou privada, onde se formem realizadores, cinematógrafos, actores, iluminadores, maquinistas, produtores, caracterizadores, figurinistas, argumentistas, montadores, enfim, todas as profissões relacionadas com o cinema e o audiovisual, da qual sairiam profissionais capazes de integrar o mercado de trabalho, e aqui, para além da televisão regional que está neste momento a ser posta em causa mas cujo futuro deve ser defendido e garantido, deverá ser promovida a produção regional pois, a par de outras artes, o cinema e o audiovisual em geral são uma manifestação essencial da identidade de um povo, do seu posicionamento no mundo e da sua percepção de si próprio e daquilo que o rodeia. Não sendo esta uma escola superior de cinema, poderia formar técnicos bem apetrechados para toda uma série de profissões associadas ao cinema e ao audiovisual criando uma nova geração apta a estagiar e, mais tarde, integrar de pleno direito qualquer equipa a trabalhar em Portugal ou no estrangeiro.

Esta escola, direccionada exclusivamente para esta área de actividade cultural ou integrando outras “artes”, seria uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento da actividade cultural na Região, contribuindo para o aparecimento de novos criadores, profissionais ligados ao sector e novos públicos.

…Até porque, e tal como aconteceu noutras pequenas cidades do país, será o ensino artístico que poderá dar o necessário impulso para o futuro dos Açores como Região Criativa.


* Texto lido por João da Ponte na sessão pública de discussão e apresentação de contributos para o Livro Verde - Realizar o Potencial das Indústrias Culturais e Criativas, que decorreu no dia 24 de Junho, no auditório da BPARPD.

6/22/2010

A história recente do Irão contada como se fossemos adultos

Persépolis é um filme que nos atinge violentamente e o mais engraçado é que deve ser das poucas vezes em que gostamos de ser alvejados assim. Conta a história (verdadeira) da pequena Marjane que atravessa as convulsões iranianas dos anos setenta e vai forjando a sua consciência social e politica ao longo da adolescência até se tornar uma mulher. Também a história recente do Irão e no fundo a história recente do mundo em que os homens mesmo depois de tantos milhares de anos, continuam a comportar-se de forma estúpida. É um desenho animado para adultos que as crianças devem ver. Terno, violento, cáustico, esclarecedor, bem humorado, apaixonado, bem contado, em suma um dos melhores trabalhos que este cineclube deu a ver ao seu público. O cinema é também isso : uma chave que nos abre as portadas da consciência.

Mário Roberto

6/08/2010

CADA UM O SEU CINEMA | LARS VON TRIER

CADA UM O SEU CINEMA | TSAI MING-LIANG

CADA UM O SEU CINEMA | HOU HSIAO-HSIEN

CADA UM O SEU CINEMA | TAKESHI KITANO

CADA UM O SEU CINEMA | ZHANG YIMOU

CADA UM O SEU CINEMA | DAVID LYNCH

A cada um o seu cineclube





Faz sentido termos um cineclube em Ponta Delgada? Eu diria que sim mas gostava de saber a vossa opinião. Já agora, o nosso mail é 9500cineclube@gmail.com. Mandem-nos sugestões. Gentis presentes também servem (galinhas, bananas, milho que podemos arrematar) e donativos, porque não? Sabiam que há uma modalidade em que por cem euros anuais poderão assistir a todos os nossos filmes sem ter de pagar o bilhete e ainda ter o vosso lugar cativo? Pois é, aproveitem. Se não souberem que uso haverão de dar ao vosso dinheiro, invistam em cultura. Parece que é o que está a dar. Fala-se em cidades culturais, em indústrias da cultura, por isso contribuam. Nem que seja para estarem na moda. Na minha opinião um cineclube é sinal de cultura. E que é um povo que não investe na sua cultura? Eu poderia dizer que é um calhau, já que não me consta que as pedras possuam alguma cultura. Mas não vou dizer isso. Sou demasiado bem educado para andar por aí a insultar as pessoas. Mas por acaso gostava que se percebesse o papel identificativo e basilar da cultura e de como é importante produzir e consumir cultura. Talvez tão importante como o pequeno almoço. Ver a telenovela é consumir cultura. desde que faça pensar. Alguns dos filmes do cineclube também podem fazer o espectador pensar : “Que grande seca”. Mas a verdade é que a nossa preocupação é programar obras que não sejam necessariamente chatas mas que dalguma forma induzam o espectador a interrogar-se. Ao contrario do que se possa pensar, a programação cineclubistica não é sisuda. O humor é fundamental. Provavelmente não faz é concessões ao riso alarve embora os pioneiros do cinema o tenham utilizado – veja-se o caso do “l’arroseur arrosé” dos irmõs Lumiére. Ontem, assisti a 33 curtas metragens integradas no projecto Chacun son cinema. Gostei mais dumas do que de outras. Como um filme de Elia Suleiman, que pratica um humor corrosivo fazendo habitualmente uso da sua personna imperturbável face a situações absurdas. Ou o humor negríssimo de Lars Von Triers que “despacha” um espectador inoportuno.
Daqui a duas semanas será a vez de Persepólis, um filme de animação mais do que comprometido. Não falhem.

Mário Roberto

6/02/2010

?

O cinema o que é? Divertimento? Alienação? Compreensão? Conhecimento? Pipocas e Coca-Cola? Nada disso? Tudo isso?

Num desses dias de sessões do 9500 cineclube vi duas meninas entrarem na sala com pipocas e coca cola, algo que eu não imaginava acontecer numa sessão cineclubística. O meu primeiro ímpeto foi agarrá-las pelos cabelos, despejar-lhes em cima o refrigerante e os grãozinhos de milho estofado e expulsá-las pelo sacrilégio cometido. Da parte dos meus correligionários da direcção nem um esgar aborrecido. Amansei. Embora me continuasse a irritar, irrita-me aderirem a uma espécie de aditivos para proporcionar mais prazer a ver um filme, uma espécie de preservativos com estrias. Será isso necessário ou trata-se apenas de mais uma manobra publicitária que deu certo? A minha indignação terá mais a ver com esse carneirismo de adesão, do que propriamente com o facto de se comer enquanto se vê um filme. Eu próprio gosto de fazê-lo no sossego do lar. Imaginava que o público dum cineclube estivesse mais interessado no filme do que em confortar os estômago, mas pareceu-me que as pitinhas tinham entrado ali algo equivocadas. Duvido mesmo que soubessem qual o filme que iriam ver. È que aqui não há cinema block-buster, ou seja cinema que mais do que sensibilizar, pretende agradar ao maior número possível de pessoas. E isso remete-me para outra dúvida. Será que quem aqui vem ver um filme se apercebe de que fazemos pouca ou nenhuma cedência ao cinema dito comercial? As pessoas estarão preparadas para ver obras que fogem a esses cânones? Acredito que a maior parte está sim, mas depois ouço queixas do género: “è só filmes franceses”. Sim, temos, por mero acaso, programado alguns filmes franceses. E depois? O que têm de mal os filmes falados em francês? E em coreano? E em polaco? A lingual em que é falado um filme é assim tão importante? Não haverá outras coisas mais importantes?Desculpem, mas não me parece um argumento válido. Gosto imenso de lingua de vaca num prato à minha frente, mas se me trouxerem lingua de chimpanzee, vou pelo menos provar e tentar compreender o seu sabor, e chegar à conclusão de que estou apenas a estranhar e que, com algum tempo, hei-de entranhar e passar a comer língua de primata com prazer. Para os anti–francofonia uma novidade: também teremos filmes falados em inglês. Mas por acaso há um realizador que nos tem mandado mails a propôr-nos a estreia do seu segundo filme. Não sei se vos faz alguma diferença mas o realizador em questão é um chimpanzé e o filme é inteiramente falado em chimpanzês.

Mário Roberto

6/01/2010

SESSÃO 18


Um filme absolutamente único, realizado por ocasião dos 60 anos do Festival de Cannes, reúne o modo como 33 cineastas de 25 países olham o cinema e as salas de cinema, lugar de comunhão dos cinéfilos do mundo inteiro. Objecto cinematográfico imperdível, autêntico compêndio do estado do mundo do cinema e das singularidade de cada cineasta.

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